Fonte: Cigarros eletrônicos: o que sabemos? – Ministério da Saúde – INCA
O que é um cigarro eletrônico?
É um dispositivo utilizado para fornecer nicotina ao usuário, através de sua vaporização, na forma de aerossol. Estes dispositivos são alimentados por uma bateria de lítio, geralmente recarregável. Contém a nicotina diluída em um solvente, juntamente com água e outras substâncias variadas. Ao ser aquecida, essa composição libera o vapor líquido, parecido com a fumaça do cigarro regular. Geralmente a nicotina é liberada conjuntamente com sabores, e ocorre a formação de outras substâncias durante este aquecimento. Popularmente, também é conhecido em inglês como Electronic Nicotine Delivery Systems (ENDS), e-cigarretes, e-ciggy, ecigar. Em português, também é conhecido como DEF (Dispositivo Eletrônico para Fumar). O termo “vape” também é usado.
O cigarro eletrônico existe faz tempo ou é uma novidade?
Foi inventado em início dos anos sessenta, mas não chegou a ser produzido por falta de tecnologia à época. Após o ano 2000 surgiu um novo modelo, com a patente adquirida pela indústria do cigarro. Desde então, diversos modelos surgiram.
O usuário do cigarro eletrônico é fumante?
Os usuários do cigarro eletrônico se denominam “vapers”, ou seja, vaporizadores, aqueles que usam a vaporização como método para a obtenção da nicotina. Mas são considerados fumantes, visto que há a inalação da nicotina e demais componentes.
O cigarro eletrônico ajuda a parar de fumar?
Não há nenhuma evidência científica sustentável que comprove isto, embora seja um dos argumentos utilizado para vender e por quem utiliza.
Dizem que a nicotina nos cigarros eletrônicos é mais purificada. Isso é verdade?
Esse é mais um dos argumentos que os fabricantes e vendedores utilizam. Em alguns modelos, a quantidade de nicotina é ainda maior que nos cigarros comuns. Embora não existam nos cigarros eletrônicos o alcatrão e o monóxido de carbono, presentes na queima do tabaco nos cigarros comuns, outras substâncias são encontradas, e no processo de vaporização outras são formadas.
Existem diferenças entre os modelos?
Os DEFs atualmente estão na terceira geração, e já se fala numa quarta geração.
A primeira geração é composta por produtos descartáveis não recarregáveis, com formato muito semelhante ao cigarro regular, sendo que uma luz de led simula a brasa do cigarro durante a tragada. Disponíveis em cores vibrantes, são também conhecidos como e-hookah ou shisha-pen e, na Holanda, como kindersigaret (cigarros de crianças). NJoy, OneJoy, Aer, Disposable e Flavorvapes são as marcas de primeira geração disponíveis no mercado.
Na segunda geração, encontram-se produtos (Blu, GreenSmoke e EonSmoke) com bateria recarregável, nos quais os cartuchos podem ser substituídos por outros pré-cheios de nicotina líquida. Alguns, semelhantes a canetas (pen-style), permitem a regulagem da duração e do número de tragadas (Vapor King, Storm, Totally, Wicked e Tornado).
A terceira geração de DEF não se assemelha ao cigarro regular e também é conhecida por “tank” (Volcano e Lavatue), por conter um reservatório ou tanque para ser preenchido com nicotina e também com outras drogas, como por exemplo derivados do tetrahidrocanabiol (THC), a chamada maconha líquida. São recarregáveis e facilmente manipuláveis para a emissão de uma maior quantidade de vapor.
Já se fala numa quarta geração, com apelo mais tecnológico, com novas promessas aos consumidores, controle de temperatura, etc.
Então os mais novos são mais seguros?
Essa é mais uma propaganda para comercializá-los. No entanto, o que todos tem em comum é que, ao se aquecer as substâncias para vaporização, outras substâncias são formadas e diversas destas são cancerígenas e tóxicas ao trato respiratório.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ainda não existem pesquisas conclusivas que comprovem a segurança na utilização dos cigarros eletrônicos.
Por outro lado, diversos estudos realizados mundo afora mostram que ele causa danos à saúde, em especial ao coração e ao pulmão, mas também à bexiga e ao estômago – mesmo se usado por pouco tempo (dois ou três meses).
Alguns modelos possuem ainda mais nicotina que os cigarros comuns, e é isso que vicia.
Baseado nestes elementos, o governo brasileiro, em 2009, publicou a resolução RDC 46/2009, proibindo a comercialização, a importação e a propaganda de qualquer dispositivo eletrônico para fumar (DEF) no território nacional – ainda assim, não é difícil encontrá-lo em lojas virtuais e de produtos importados.
Existem cigarros eletrônicos sem nicotina?
O FDA, órgão regulador do Estados Unidos, descobriu que os cartuchos comercializados como “sem nicotina”, exceto uma das amostras, continham níveis baixos de nicotina. E é justamente a presença da nicotina que induz o usuário ao vício, isto é, a dependência nicotínica.
Existe uma padronização de cigarros eletrônicos?
Não, e isto é um grande problema. Com a diversidade de modelos e gerações diferentes, não se conhece ainda toda a dimensão do problema. E com a popularização dos modelos tipo tanque, usuários preenchem os reservatórios com produtos caseiros, com diferentes concentrações e até com outras drogas.
Por que a indústria de cigarros tem interesse nos cigarros eletrônicos?
Em grande parte do mundo vem ocorrendo uma queda na comercialização de cigarros comuns. No Brasil, depois de instituída as leis de combate ao tabagismo houve uma queda de 35% para menos de 10% no número de fumantes. Ou seja, de um terço da população para um décimo da população. Esta queda acentuada obviamente gera menos receitas para a indústria. Então, novas alternativas para se manter os “clientes” são bem-vindas. Hoje é um mercado bilionário e que vem crescendo a cada dia.
O principal público são os jovens. Muitos que nunca tinham fumado começam a utilizar os DEFs por conta do apelo visual, dos sabores, da possibilidade de recarregar as baterias (tipo USB, pen-drives), podendo também se tornarem consumidores de cigarros futuramente.
Recentemente ocorreram algumas mortes, associadas aos cigarros eletrônicos. O que se sabe sobre isso?
Até o momento desta atualização (17/10/2019), vinte e seis casos fatais foram descritos nos Estados Unidos, porém centenas de internações ocorreram com doenças pulmonares graves, todos com o fato comum de serem usuários. Ainda está se pesquisando a origem, mas suspeitas existem que um subproduto da vaporização seja o agente, mas ainda não foi identificado.
Quais são as substâncias já encontradas no vapor dos cigarros eletrônicos?
Ao tragar, os “vapers” absorvem os vapores gerados a partir de soluções conhecidas como “e-liquids” ou “e-juices” que contêm solventes (os chamados “e-liquid base”), além de várias concentrações de nicotina, água, aromatizantes e inúmeros outros aditivos. Os solventes mais populares usados em “e-liquids” são a glicerina (geralmente de origem vegetal) e o propilenoglicol. O glicerol pode estar presente ou não nos DEFs. Estimou-se teoricamente que a temperatura de vaporização da resistência pode atingir até 350° C. Essa temperatura é suficientemente elevada para induzir reações químicas e mudanças físicas nos compostos dos “e-liquids”, formando outras substâncias potencialmente tóxicas. Tanto os solventes com glicerina quanto os com propilenoglicol demonstraram decompor-se a altas temperaturas, gerando compostos carbonílicos de baixo peso molecular, como o formaldeído, o acetaldeído, a acroleína e a acetona.
Algumas destas substâncias tem uso permitido em outras formulações, como cosméticos dermatológicos, mas na forma de aerossóis são potencialmente tóxicas. O propilenoglicol, por exemplo, é permitido para uso oral como aditivo de alimentos, mas seu aquecimento gera gases tóxicos e até explosivos em sua queima.
Cientistas descobriram que sódio, ferro, alumínio e níquel estavam presentes em concentrações maiores nos vapores dos cigarros eletrônicos do que nos cigarros regulares. Os elementos cobre, magnésio, chumbo, cromo e manganês foram encontrados nas mesmas concentrações, e o potássio e o zinco em menores concentrações. Silício, cálcio, alumínio e magnésio foram os elementos encontrados em maior abundância no vapor. Todos os elementos encontrados no vapor dos DEF são conhecidos por causar desconforto e doenças respiratórias, enquanto alguns também afetam a reprodução e o desenvolvimento, e outros são cancerígenos.
Quais são os danos ao nosso organismo?
Essas mesmas substâncias são classificadas como citotóxicas, carcinogênicas, irritantes, causadoras do enfisema pulmonar e de dermatite.
O propilenoglicol causa irritação nos olhos, garganta e vias aéreas. Desencadeia tosse e obstrução das vias respiratórias em não asmáticos, piora em asmáticos e já portadores de doenças pulmonares, e, quando da sua inalação de forma repetida em ambientes industriais, pode afetar o baço e o SNC, desencadeando alterações no comportamento.
O uso do glicerol também na forma inalada está associado com a pneumonia lipoide, com casos bem documentados.
O etilenoglicol também é irritante de vias aéreas. A irritação nasal e da garganta são alguns dos efeitos adversos imediatos após a inalação, além de náuseas, vômitos, fraqueza e dor abdominal. A alta exposição ao etilenoglicol pode desencadear cefaleia, tonturas, fala arrastada, convulsão, perda da coordenação motora e até coma. Os efeitos adversos crônicos podem surgir após a exposição e prolongar-se, em alguns casos, por meses e até anos. Possui ação teratogênica em animais, não sendo recomendado para humanos por potencial dano ao feto. A alta ou sucessiva exposição pode causar danos aos rins e ao cérebro.
Há ainda a ocorrência de acroleína, acetona, acetaldeído (potencialmente cancerígeno), formaldeído (cancerígeno reconhecido). Essas substâncias, embora já bem conhecidas, tem suas concentrações variáveis de dispositivo para dispositivo, e portanto, efeitos variáveis também podem aparecer.
Pode-se dizer, em suma, que não é seguro o uso de cigarros eletrônicos, em quaisquer de seus modelos ou gerações.
Fonte: Cigarros eletrônicos: o que sabemos? – Ministério da Saúde – INCA